domingo, 25 de maio de 2008

Poesia Matemática

As folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma incógnita

Olho-a com um olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à base,
Uma figura ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela
Até que se encontraram
No infinito.
" Quem és tu?", indagou ele
Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de hipotenusa".

E de falarem descobriram quem eram
_ O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primo-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas,cículos e linhs senóides.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exagetas do universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando como uma felicidade
Integral
E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones.

Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais Um todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração
mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividede
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.

Trinta anos de mim mesmo. Millôr Fernandes, Rio de Janeiro, Nórdica, 1972

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